"Neste infinito fim que nos alcançou
Guardo uma lágrima vinda do fundo
Guardo um sorriso virado para o mundo
Guardo um sonho que nunca chegou
Na minha casa de paredes caídas
Penduro espelhos cor de prata
Guardo reflexos do canto que mata
Guardo uma arca de rimas perdidas
Na praia deserta dos dias que passam
Falo ao mar de coisas que vi
Falo ao mar do que conheci...
No mundo onde tudo parece estar certo
Guardo os defeitos que me atam ao chão
Guardo muralhas feitas de cartão
Guardo um olhar que parecia tão perto
Para o país do esquecer o nunca nascido
Levo a espada e a armadura de ferro
Levo o escudo e o cavalo negro
Levo-te a ti... levo-te a ti... levo-te a ti
para sempre comigo...
Na praia deserta dos dias que passam
Falo ao mar de coisas que vi
Falo ao mar do que nunca perdi."
Toranja - Fim
"Enquanto caía a terra rachou
E eu via a queda ainda mais funda
Ao meu lado passava tudo o que passei
Comigo a miragem que nada mudou
Do voo rasante que nem começou
Do tempo apressado que nem reparei
Sinto os meus gestos flutuar, devagar
No último segredo antes do ódio
À minha frente um filme de aves sem voz
E quando as toquei resolvi gostar
Quando as ouvi fiquei a amar
Ter tentado subir ao cimo de nós"
Toranja - Lados Errados
/fotografia de Ricardo Reis
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