"Odiou tudo que pôde naquele momento. A si mesma, o mundo, a cadeira que estava na sua frente, a calefação quebrada num dos corredores, as pessoas perfeitas, os criminosos. Estava internada num hospício, e podia sentir coisas que os seres humanos escondem de si mesmos - porque somos todos educados apenas para amar, aceitar, tentar descobrir uma saída, evitar o conflito. Veronika odiava tudo, mas odiara principalmente a maneira como conduzira sua vida - sem jamais descobrir as centenas de Veronikas que habitavam dentro dela, e que eram interessantes, loucas, curiosas, corajosas, arriscadas.
Em dado momento, começou a sentir ódio também pela pessoa que mais amava no mundo: sua mãe. A excelente esposa que trabalhava de dia e lavava os pratos a noite, sacrificando sua vida para que a filha tivesse uma boa educação, soubesse tocar piano e violino, se vestisse como uma princesa, comprasse os tênis e calças da marca, enquanto ela remendava o velho vestido que usava há anos.
"Como posso odiar quem apenas me deu amor?", pensava Veronika, confusa, e querendo corrigir seus sentimentos. Mas já era tarde demais, o ódio estava solto, ela abrira as portas do seu inferno pessoal. Odiava o amor que lhe tinha sido dado - porque não pedia nada em troca - o que é absurdo, irreal, contra as leis da natureza.
O amor que não pedia nada em troca conseguia enchê-la de culpa, de vontade de corresponder às suas expectativas, mesmo que isso significasse abrir mão de tudo o que sonhara pra si mesma. Era um amor que tentara lhe esconder, durante anos, os desafios e a podridão do mundo - ignorando que um dia ela iria se dar conta disso, e não teria defesa para enfrenta-los."
Paulo Coelho - Veronika Decide Morrer
"As flores refletem bem o verdadeiro. Quem tentar possuir uma flor, verá sua beleza murchando. Mas quem apenas olhar uma flor num campo, permanecerá para sempre com ela. Você nunca será minha e por isso terei você para sempre."
Paulo Coelho
/Peneda do Gerês
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