"Era tudo tão perfeito
um tanto quanto surreal
bruxas e belas princesas
unicórnios no quintal
onde andavam de mão dadas
chapeuzinho e lobo mau
e então agente acorda
tudo volta ao seu normal
bruxas queimam na fogueira
princesas só no carnaval."
Felippe Moraes
"As tuas lágrimas respiram e florescem, o lugar onde te sentas é o rio que corre em sobressalto por dentro de uma árvore, seiva renovada que transporta palavras até às folhas felizes de um amor demorado e ainda puro. E essa ávore fala através das tuas palavras, demora-se em conversas com as abelhas, com os gaios, com o vento.
As tuas lágrimas iluminam as páginas alucinadas dos livros de poesia, e as mesas claras tão cheias de frutos que se assemelham a fogueiras ruivas, alimento privilegiado de um imenso e intenso dragão que me aquece o sangue.
As tuas lágrimas transbordam os grandes lagos dos meus olhos e eu choro contigo os grandes peixes da ternura, esses mesmos peixes que são os arquitectos perturbados de uma relação sem tempo mas alimentada por primaveras que de tão altas são inquestionáveis.
As tuas lágrimas fertilizam as searas celestes, arrefecem o movimento dos vulcões, absorvem toda a beleza do arco-íris, embebedam-se com a doçura das estrelas. E são oferendas à mãe terra, o reconhecimento final do princípio do nosso pequeno mundo. As tuas lágrimas são minhas amigas. São as minhas lágrimas. A forma de chorar-te cheio de alegria, ferido por esta felicidade de amar-te muito, de amar-te sempre, de apascentar nas horas mais desoladas, o meu rebanho florido de azáleas brancas e vermelhas."
Joaquim Pessoa, in 'Ano Comum'
Sou só uma miúda - mesmo que sem idade para ainda o ser - a quem passam algumas coisas pela cabeça e as tenta reduzir a escrito. Sou só mais uma miúda, com algumas ideias e que não sabe desligar pensamentos. Uma miúda que se esquece de ouvir a razão e só liga ao coração. Que não desliga nunca a paixão. E que ama até à exaustão.
Uma miúda, igual a tantas outras, com um monte de sentimentos baralhados, com um punhado de emoções à flor da pele, sempre com resposta rápida na ponta dos dedos e da língua. Uma miúda.
Sou só uma miúda. Que provavelmente devia crescer. Mas que é coisa que se recusa a fazer.
- Rita Leston -
"Era uma princesa
Que amou... Já não sei...
Como estou esquecido!
Canta-me ao ouvido
E adormecerei...
Que é feito de tudo?
Que fiz eu de mim?
Deixa-me dormir,
Dormir a sorrir
E seja isto o fim."
Fernando Pessoa
“Todo o tempo é perdido quando não é a caminho do que queremos, quando não é a caminho do que precisamos,
não se ganha tempo quando se perde um sonho,
e o que é dois já não vive a dois, o que é a dois já não consegue ser só a dois.
Se não consegue ser só a dois: então não é só amor.
Se não é só amor: então não é amor.”
Pedro Chagas Freitas
"Odiou tudo que pôde naquele momento. A si mesma, o mundo, a cadeira que estava na sua frente, a calefação quebrada num dos corredores, as pessoas perfeitas, os criminosos. Estava internada num hospício, e podia sentir coisas que os seres humanos escondem de si mesmos - porque somos todos educados apenas para amar, aceitar, tentar descobrir uma saída, evitar o conflito. Veronika odiava tudo, mas odiara principalmente a maneira como conduzira sua vida - sem jamais descobrir as centenas de Veronikas que habitavam dentro dela, e que eram interessantes, loucas, curiosas, corajosas, arriscadas.
Em dado momento, começou a sentir ódio também pela pessoa que mais amava no mundo: sua mãe. A excelente esposa que trabalhava de dia e lavava os pratos a noite, sacrificando sua vida para que a filha tivesse uma boa educação, soubesse tocar piano e violino, se vestisse como uma princesa, comprasse os tênis e calças da marca, enquanto ela remendava o velho vestido que usava há anos.
"Como posso odiar quem apenas me deu amor?", pensava Veronika, confusa, e querendo corrigir seus sentimentos. Mas já era tarde demais, o ódio estava solto, ela abrira as portas do seu inferno pessoal. Odiava o amor que lhe tinha sido dado - porque não pedia nada em troca - o que é absurdo, irreal, contra as leis da natureza.
O amor que não pedia nada em troca conseguia enchê-la de culpa, de vontade de corresponder às suas expectativas, mesmo que isso significasse abrir mão de tudo o que sonhara pra si mesma. Era um amor que tentara lhe esconder, durante anos, os desafios e a podridão do mundo - ignorando que um dia ela iria se dar conta disso, e não teria defesa para enfrenta-los."
Paulo Coelho - Veronika Decide Morrer
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