E aí você cai e levanta maior.
E você percebe que amor é algo raro de sentir. E que na verdade, amamos com a cabeça e não com o coração.
Que a mente tem mais poder do que imaginávamos.
E que ser a vítima da história pode não ser bom, mas é mais digno.
E descobre que precisa fingir pra seguir.
E finge que não ama mais. Que esqueceu. Que não deseja que a vida devolva com toda a força um mal que alguém te fez.
E finge com a boca. E finge com os olhos. E finge pra si mesma.
E volta e meia, de tanto fingir, você acredita.
E uma foto, um sorriso, e um olá, trazem a tona tudo aquilo que suja sua felicidade forjada.
E você cai outra vez. Mas cai sabendo que vai levantar forte.
E um dia você acorda e percebe que não está mais fingindo que não sente.
Você tem certeza que tudo aquilo que te deixava triste, deixou de existir.
Aí você percebe que nada foi fingimento.
E passa a chamar de pensamento positivo e certeza de que quem decide o que vai sentir, é você mesma.
E depois disso, tudo passa a doer menos.
Depois disso, tudo passa.
"As tuas lágrimas respiram e florescem, o lugar onde te sentas é o rio que corre em sobressalto por dentro de uma árvore, seiva renovada que transporta palavras até às folhas felizes de um amor demorado e ainda puro. E essa ávore fala através das tuas palavras, demora-se em conversas com as abelhas, com os gaios, com o vento.
As tuas lágrimas iluminam as páginas alucinadas dos livros de poesia, e as mesas claras tão cheias de frutos que se assemelham a fogueiras ruivas, alimento privilegiado de um imenso e intenso dragão que me aquece o sangue.
As tuas lágrimas transbordam os grandes lagos dos meus olhos e eu choro contigo os grandes peixes da ternura, esses mesmos peixes que são os arquitectos perturbados de uma relação sem tempo mas alimentada por primaveras que de tão altas são inquestionáveis.
As tuas lágrimas fertilizam as searas celestes, arrefecem o movimento dos vulcões, absorvem toda a beleza do arco-íris, embebedam-se com a doçura das estrelas. E são oferendas à mãe terra, o reconhecimento final do princípio do nosso pequeno mundo. As tuas lágrimas são minhas amigas. São as minhas lágrimas. A forma de chorar-te cheio de alegria, ferido por esta felicidade de amar-te muito, de amar-te sempre, de apascentar nas horas mais desoladas, o meu rebanho florido de azáleas brancas e vermelhas."
Joaquim Pessoa, in 'Ano Comum'
"Me promete?
Promete que quando eu for embora sentirá saudade?
Promete que vai ficar comigo depois que o dia clarear?
Promete me fazer feliz? Promete ser só minha?
Promete me ligar todas às vezes que eu sumir?
Promete ficar quando eu te mandar sair?
Promete dizer verdades que eu não vejo sozinho?
Promete que isso não é uma ilusão?
Promete que se um dia for inevitável você partir, deixará a certeza que valeu a pena?
Promete me abraçar quando eu sentir medo de ir em frente?
Promete entender minhas loucuras?
Promete ficar em silencio quando eu estiver confuso?
Promete me tirar a noção com seu jeito de fazer amor?
Promete guardar uma foto minha na sua gaveta?
Promete cantar aquela música que eu amo, no meu ouvido, antes de deitar?
Promete não me deixar com ciúmes?
Promete me ligar de volta quando eu desligar na sua cara?
Promete me beijar quando eu sorrir ou chorar?
Promete dormir de conchinha comigo no frio?
Promete me amar loucamente?
Promete que depois de mim os outros são apenas os outros?
Promete escrever nossos nomes dentro de um coração quando o vidro do carro estiver embaçado?
Em troca prometo te amar como ninguém jamais amou."
"Coisas, Pequenas Coisas
Fazer das coisas fracas um poema.
Uma árvore está quieta,
murcha, desprezada.
Mas se o poeta a levanta pelos cabelos
e lhe sopra os dedos,
ela volta a empertigar-se, renovada.
E tu, que não sabias o segredo,
perdes a vaidade.
Fora de ti há o mundo
e nele há tudo
que em ti não cabe.
Homem, até o barro tem poesia!
Olha as coisas com humildade. "
Fernando Namora, in "Mar de Sargaços"
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