Segunda-feira, 31 de Março de 2014

Viver é...

"Viver é uma peripécia. Um dever, um afazer, um prazer, um susto, uma cambalhota. Entre o ânimo e o desânimo, um entusiasmo ora doce, ora dinâmico e agressivo. 
Viver não é cumprir nenhum destino, não é ser empurrado ou rasteirado pela sorte. Ou pelo azar. Ou por Deus, que também tem a sua vida. Viver é ter fome. Fome de tudo. De aventura e de amor, de sucesso e de comemoração de cada um dos dias que se podem partilhar com os outros. Viver é não estar quieto, nem conformado, nem ficar ansiosamente à espera. 
Viver é romper, rasgar, repetir com criatividade. A vida não é fácil, nem justa, e não dá para a comparar a nossa com a de ninguém. De um dia para o outro ela muda, muda-nos, faz-nos ver e sentir o que não víamos nem sentíamos antes e, possivelmente, o que não veremos nem sentiremos mais tarde.
Viver é observar, fixar, transformar. Experimentar mudanças. E ensinar, acompanhar, aprendendo sempre. A vida é uma sala de aula onde todos somos professores, onde todos somos alunos. Viver é sempre uma ocasião especial. Uma dádiva de nós para nós mesmos. Os milagres que nos acontecem têm sempre uma impressão digital. A vida é um espaço e um tempo maravilhosos mas não se contenta com a contemplação. Ela exige reflexão. E exige soluções. 
A vida é exigente porque é generosa. É dura porque é terna. É amarga porque é doce. É ela que nos coloca as perguntas, cabendo-nos a nós encontrar as respostas. Mas nada disso é um jogo. A vida é a mais séria das coisas divertidas."
Joaquim Pessoa, in 'Ano Comum' /Rossio

 

Publicado por Alexandra Rosa às 14:57

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Sexta-feira, 28 de Março de 2014

A mão dela

"A mão dela tinha Deus dentro. Apertava-a, beijava-a com a minha mão

Há lá coisa melhor do que duas mãos que se beijam?
Apressada, com a minha mão urgente, a minha mão como se uma ambulância, e percorríamos as ruas mesmo que fossem as ruas que nos percorressem a nós, simples corpos sorridentes

Há lá coisa melhor do que dois corpos que se sorriem?

Sabia, com cada um dos meus dedos, com cada uma das minhas mãos, todos os riscos e ranhuras da mão dela; era ali, no por dentro das mãos que tocava, que ouvia as novidades, que lia os títulos das notícias, de todas as notícias que me importavam

Há lá coisa melhor do que ler as notícias na mão que se ama?

Não havia, nos passos que dávamos, qualquer distância andada, nem sequer um caminho a andar; éramos caminhantes de andar, viajantes do nosso tempo. E acreditávamos, todos os dias, em todas as respirações que respirávamos no espaço das nossas mãos, que o tempo era apenas o instante em que, juntos, parávamos o tempo
Há lá coisa melhor do que o instante em que se pára o tempo?
Recusávamos as palavras, até os gestos; e era assim que nos contávamos por inteiro.

Há lá coisa melhor do que aquela parte em que nos contamos por inteiro?

Não sabíamos, nunca soubemos, se era muito o tempo, o tempo das horas e dos minutos, que passávamos juntos; sabíamos que era, para nós, todo o tempo do mundo

Há lá coisa melhor do que sentir o tempo de sentir todo o tempo do mundo?

Sabíamos que era, como as nossas mãos eram, o tempo suficiente para aguentarmos o resto mais um tempo, para suportarmos o por fora das nossas mãos mais um tempo. Talvez, no momento em que as mãos se deixavam de amar, houvesse lágrimas, as lágrimas que se deixam cair sempre que algo cai dentro de nós. Talvez quiséssemos ficar por dentro das nossas mãos para sempre. 
E ficámos."
Pedro Chagas Freitas
Ricardo Reis e Alexandra Rosa - Vila Nova de Milfontes
Publicado por Alexandra Rosa às 09:30

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Quinta-feira, 27 de Março de 2014

Teus olhos

"Teus olhos são a pátria do relâmpago e da lágrima, 
silêncio que fala, 
tempestades sem vento, mar sem ondas, 
pássaros presos, douradas feras adormecidas, 
topázios ímpios como a verdade, 
outono numa clareira de bosque onde a luz canta no ombro 
             duma árvore e são pássaros todas as folhas, 
praia que a manhã encontra constelada de olhos, 
cesta de frutos de fogo, 
mentira que alimenta, 
espelhos deste mundo, portas do além, 
pulsação tranquila do mar ao meio-dia, 
universo que estremece, 
paisagem solitária."
Octavio Paz, in "Liberdade sob Palavra" 

/Fotografia tirada por Ricardo Reis 

Publicado por Alexandra Rosa às 09:36

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Quarta-feira, 26 de Março de 2014

Bandido solitário

"O bandido solitário tem no crime o coração
Traz do roubo o seu salário
Paga caro a paixão.

O bandido solitário tem uma bala no canhão
Vai metê-la no diabo
Já deitado no caixão.

O bandido solitário tem a fúria de um cão
E anda às voltas pelas ruas
Com a alma pela mão.

O bandido solitário só faz folga para foder,
Escolhe sempre as mais feias,
Gosta de beijar sem ver.

E a mulher que o quiser tem de ouvir esta canção,
E a mulher que o quiser,
Farto peito, grande língua, anos de bailado e natação.

Foi um dia apanhado a roubar uma espanhola,
Ficou tudo admirado
E tiraram-lhe a pistola.

E a pistola era tola, só servia para espirrar,
Carregando numa mola
Não servia para matar.

E a mulher que o quiser tem de ir para a prisão,
E a mulher que o quiser,
Farto peito, grande língua, anos de bailado e natação.

E a mulher que o quiser tem de ir para a prisão,
A mulher que o quiser,
Farto peito, grande língua, anos de bailado e natação."

Mundo Cão - Anos de Bailado e Natação

/Lagoa de Albufeira

Publicado por Alexandra Rosa às 09:52

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Terça-feira, 25 de Março de 2014

Ou julgavas que não?

“Quando dizes que julgar é mau: já estás a julgar.
E quando dizes que quem julga já está a julgar: já estás a julgar.
E quando dizes que quem julga quem julga já está a julgar: já estás a julgar.
E quando dizes que quem julga quem julga quem julga já está a julgar: já estás a julgar.
E quando. 
Tu sabes.
Se olhas para o que está à tua volta: já estás a julgar
Nenhum olhar é inocente. Nenhum humano é menos do que um juiz. Nenhuma vida é menos do que um julgamento. 
Ou julgavas que não?

Pedro Chagas Freitas

/Vila Nova de Milfontes

 

Publicado por Alexandra Rosa às 14:39

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Quinta-feira, 20 de Março de 2014

Agora que Sinto Amor

"Agora que sinto amor 
Tenho interesse no que cheira. 
Nunca antes me interessou que uma flor tivesse cheiro. 
Agora sinto o perfume das flores como se visse uma coisa nova. 
Sei bem que elas cheiravam, como sei que existia. 
São coisas que se sabem por fora. 
Mas agora sei com a respiração da parte de trás da cabeça. 
Hoje as flores sabem-me bem num paladar que se cheira. 
Hoje às vezes acordo e cheiro antes de ver."

Alberto Caeiro, in "O Pastor Amoroso" 

/Praia do Malhão - Vila Nova de Milfontes

 

Sou:
Publicado por Alexandra Rosa às 10:49

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Quarta-feira, 19 de Março de 2014

Natureza

"O que é o homem na natureza? Um nada em relação ao infinito, um tudo em relação ao nada, um ponto a meio entre nada e tudo."

Blaise Pascal

/Cado Sardão - Vila Nova de Milfontes 

Publicado por Alexandra Rosa às 12:00

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Terça-feira, 18 de Março de 2014

Imperfeição dos detalhes

"A beleza da vida está na imperfeição dos detalhes, se tudo fosse perfeito, perderia a graça! A verdadeira arte se encontra fora dos padrões."

Daiane Rabelo

/Praia das Furnas - Vila Nova de Milfontes

Publicado por Alexandra Rosa às 09:51

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Segunda-feira, 17 de Março de 2014

Era uma princesa

"Era uma princesa
Que amou... Já não sei...
Como estou esquecido!
Canta-me ao ouvido
E adormecerei...
Que é feito de tudo?
Que fiz eu de mim?
Deixa-me dormir,
Dormir a sorrir
E seja isto o fim."

Fernando Pessoa

/Carnaval de Loures

 

Publicado por Alexandra Rosa às 14:23

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Sexta-feira, 14 de Março de 2014

Alguém perdeu alguma coisa?

“Todo o tempo é perdido quando não é a caminho do que queremos, quando não é a caminho do que precisamos,
não se ganha tempo quando se perde um sonho,
e o que é dois já não vive a dois, o que é a dois já não consegue ser só a dois.

Se não consegue ser só a dois: então não é só amor.
Se não é só amor: então não é amor.”

Pedro Chagas Freitas

/Carnaval de Loures

 

Publicado por Alexandra Rosa às 14:04

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Quinta-feira, 13 de Março de 2014

As Palavras

“As palavras.

Valemos as palavras que valemos.

O resto é pele.

E a pele envelhece.

Só as palavras não envelhecem.”

Pedro Chagas Freitas

/Gouveia

 

Publicado por Alexandra Rosa às 16:31

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Quarta-feira, 12 de Março de 2014

Balançar

"Passaram os anos, mas a memória ficou
no tal coração que com amor me transformou;
Perdida nos sonhos, balançava por um futuro melhor,
usar esse balançar como um fim para toda a dor;
Cantar enquanto sentia o vento puxar o meu cabelo
e lançar a voz ao ar como um apelo;
Abstrair-me de tudo aquilo que me rodeava
enquanto que o sol o fim do dia anunciava;
Apreciar cada balanço como uma ascensão
e ir crescendo na pressa de queimar a solidão;
Imaginar os meus dedos a romper o manto azul do céu,
receber de braços erguidos aquilo que a vida me deu.
Esticar as pernas numa tentativa de voar
para um mundo diferente onde conseguisse aceitar
o que a realidade tem de duro para me dar;
Será sempre uma tentativa de limpa-lágrimas
o fugir à dolorosa monotonia diária;
O acto de ascender as pernas bem esticadas e sem medo,
a força feita com as mãos nas cordas já desgastas
pintado o chão com pegadas abstractas.
Mostro e digo a simplicidade com que ouço,
escrevo então a simplicidade de andar de baloiço."

Sónia Oliveira Fonseca - Baloiço

/Fotografia tirada por Ricardo Reis - Gouveia

 

"Sou uma mulher madura, que às vezes brinca de balanço.

Sou uma criança insegura, que ás vezes anda de salto alto."

Martha Medeiros

 

 

Música: Mafalda Veiga e Tiago Bettencourt - Balançar
Publicado por Alexandra Rosa às 11:14

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Segunda-feira, 10 de Março de 2014

Odiou tudo que pôde naquele momento

"Odiou tudo que pôde naquele momento. A si mesma, o mundo, a cadeira que estava na sua frente, a calefação quebrada num dos corredores, as pessoas perfeitas, os criminosos. Estava internada num hospício, e podia sentir coisas que os seres humanos escondem de si mesmos - porque somos todos educados apenas para amar, aceitar, tentar descobrir uma saída, evitar o conflito. Veronika odiava tudo, mas odiara principalmente a maneira como conduzira sua vida - sem jamais descobrir as centenas de Veronikas que habitavam dentro dela, e que eram interessantes, loucas, curiosas, corajosas, arriscadas.
Em dado momento, começou a sentir ódio também pela pessoa que mais amava no mundo: sua mãe. A excelente esposa que trabalhava de dia e lavava os pratos a noite, sacrificando sua vida para que a filha tivesse uma boa educação, soubesse tocar piano e violino, se vestisse como uma princesa, comprasse os tênis e calças da marca, enquanto ela remendava o velho vestido que usava há anos.
"Como posso odiar quem apenas me deu amor?", pensava Veronika, confusa, e querendo corrigir seus sentimentos. Mas já era tarde demais, o ódio estava solto, ela abrira as portas do seu inferno pessoal. Odiava o amor que lhe tinha sido dado - porque não pedia nada em troca - o que é absurdo, irreal, contra as leis da natureza.
O amor que não pedia nada em troca conseguia enchê-la de culpa, de vontade de corresponder às suas expectativas, mesmo que isso significasse abrir mão de tudo o que sonhara pra si mesma. Era um amor que tentara lhe esconder, durante anos, os desafios e a podridão do mundo - ignorando que um dia ela iria se dar conta disso, e não teria defesa para enfrenta-los."

Paulo Coelho - Veronika Decide Morrer

/Carnaval de Loures

 

Publicado por Alexandra Rosa às 14:36

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Sexta-feira, 7 de Março de 2014

Bastava que ela me dissesse: vamos.

“Bastava que ela me dissesse: vamos. E eu iria. Não sei para onde. Não imagino para onde. Mas iria. Feliz como nunca. Feliz como estou feliz sempre que estou com ela. Vamos, diria ela, nos meus sonhos mais utópicos. E eu iria. Mas não vou. Ela não diz. Ela não diz nada e eu vou aguentando esta sucessão de nadas que tento transformar em tudo. 
Amar é transformar uma sucessão de nadas em tudo.”
"In Sexus Veritas", de Pedro Chagas Freitas
-/Ribeira do Porto
Publicado por Alexandra Rosa às 11:37

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Quinta-feira, 6 de Março de 2014

Há mar e mar, há ir e voltar

O amor é o amor — e depois?! 
Vamos ficar os dois 
a imaginar, a imaginar?... 

O meu peito contra o teu peito, 
cortando o mar, cortando o ar. 
Num leito 
há todo o espaço para amar! 

Na nossa carne estamos 
sem destino, sem medo, sem pudor 
e trocamos — somos um? somos dois? 
espírito e calor! 

O amor é o amor — e depois? 

Alexandre O'Neill, in 'Abandono Vigiado'

/Lagoa de Albufeira

 

Publicado por Alexandra Rosa às 11:10

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Quarta-feira, 5 de Março de 2014

Raízes para voltar...

"Dê a quem você ama:

Asas para voar, raízes para voltar e motivos para ficar." 

Dalai Lama 

/Cabo de Espichel

 

Publicado por Alexandra Rosa às 16:13

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Segunda-feira, 3 de Março de 2014

Liberdade

"- Ela é tão livre que um dia será presa.

- Presa por quê?

- Por excesso de liberdade.

- Mas essa liberdade é inocente?

- É. Até mesmo ingênua.

- Então por que a prisão?

- Porque a liberdade ofende."

Clarice Lispector

/Ota

 

Publicado por Alexandra Rosa às 14:32

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